Terreiro do Paço

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Para o Boby

O Boby é um rafeiro que conheço há muito muito tempo, fizemos um interregno nas nossas faladuras durante alguns anos em que andou com o , não sei se é amigo se dono, Velho a dar voltas pelo mundo com raptos à mistura mas de há algum tempo para cá que nos reencontrámos e temos trocado falas e latidos quer seja por telefone quer seja via net, sim porque o Boby é um rafeiro todo modernaço que obrigou o Velho a ensinar-lhe estas novas formas de comunicação mas para além disto o sacana do rafeiro tem outra característica, sabe ler e é exactamente por saber ler que hoje vos venho aqui falar dele, ah estava a esquecer-me o Boby é portador de um nome sonante “de la Fontaine”, podia ser Boby Esopo mas não como tem a mania que é aristocrata insiste em ser de la Fontaine, é que o gajo costuma ler uns textinhos que por vezes planto no jardim do facebook onde ele vai com o Velho dar umas mijinhas e aproveita para dar umas vistas de olhos nos referidos textinhos, bem nesta altura quase de certeza que se interrogam mas porque é que este gajo vem para aqui falar do Boby que não conheço de lado nenhum em vez de estar a falar de coisas interessantes como o gasparzinho, o tretas ou mesmo o génio dos pastéis de Belem? Pois bem conto-vos já de seguida o Boby ontem leu um textinho meu em que dizia que estava farto deste país da treta que não é para novos nem para velhos e o cabrão teve o desplante de dizer que gostava mais dos meus escritos pornográfikus, assim mesmo pornográfikus, o que me deixa um bocado confuso já que em tempos me confessou latindo-me baixinho ao ouvido que as partes moles do gajo já não se endireitavam nem mesmo à vista de uma bela lulu da Pomerânea e perante isto só posso concluir que o gajo sofre de priamismo das orelhas ou dos olhos senão para que quereria ele textos pornográficos ou pornográfikus?
Bem como assim de repente não me vem nada à memória vou-lhe contar uma historinha de encantar, e é assim:
Num reino distante havia um rei que há muito desesperava por ter uma filha, dizia-se que a mulher, a rainha, era estéril ou histérica não sei bem como se diz e um dia o rei farto de brincar ao mete e tira com a rainha sem que daí adviesse princeso ou princesa decidiu convocar os magos magas da corte para encontrar uma solução para o problema, ao fim de três dias de convénio e sem que se tivesse chegado a conclusão nenhuma o pajem, nestas histórias há sempre um pajem, chegou-se ao ouvido do rei e disse-lhe “sua majestade já vimos que estes gajos e estas gajas são todos uns charlatães do camandro mas eu conheço uma camponesa muito jeitosa que ainda é virgem sua majestade podia ir quecando com ela e algum dia a tipa há-de engravidar” “não tá nada mal pensado nan senhor mas depois como é que vou apresentar a minha descendente ao povo se eles não viram nunca a rainha grávida?” “não se preocupe sua senhoria que sou intimo do Spilberg e o gajo arranja prái uns efeitos especiais quinté dá a impressão que a rainha tá grávida” “está bem trata lá disso que se resultar os maravedis que gasto em putas são todos para ti” e assim foi o pajem telefonou ao Spilberg e à camponesa que embora a contragosto, o Spilberg, lá se dispuseram a alinhar na maravilhosa técnica do engravidanço da rainha com quecas na camponesa, se fosse hoje dir-se-ia que a camponesa era uma barriga de aluguer mas naqueles tempos não, era apenas uma concubina do rei embora por uma nobre causa.
O rei tomou banho vestiu uma daquelas paneleirices de rei, foi para a cama de dossel e esperou que lhe trouxessem a camponesa a quem estavam a dar banho, perfumar e despiolhar que quem vai para a cama com o rei tem que ir minimamente apresentável, neste entretanto o rei ia fazendo umas festas no marzápio para o tornar rijo e duro que naqueles tempos ainda não tinham inventado nem o Viagra nem o Cialis e rei que se preze tem que estar sempre pronto a desembainhar a espada, estava o rei nestes preparos quando lhe trouxeram a donzela, bem a gaja era linda era assim que a modos de uma Jennifer Anniston com as mamas da Courtney Cox, os olhos do rei arregalaram-se, parou de esfregar o malho e zuca que se faz tarde amandou-se logo à camponesa, ela ainda lhe implorou para não ser bruto “ai quisto dói tanto” mas o rei não estava cá para suplicas foi pela frente por trás nas mamas na boca o gajo estava mesmo perdidinho e este banquete foi-se repetindo diariamente enquanto a rainha estéril ia dando umas com o regente mor da corte até que um dia a camponesa que nesta altura já tinha porte de princesa disse ao rei “saiba vossa majestade que temos que parar com a brincadeira que já estou grávida” o rei esfusiante mandou anunciar por todo o reino que a rainha estava de esperanças, o Spilberg desabafou “até que enfim que tenho alguma coisa para fazer” e lá se encarregou de diariamente ir acrescentando uns milímetros à barriga da rainha que mesmo assim não parava de dar umas voltinhas com o regente.
Demos um salto no tempo e façamos de conta que passaram nove meses, nasceu uma linda menina loura de olhos azuis, o rei estava exultante com o acontecimento e decretou três dias de festa rija por todo o reino da Fantasilandia, com comida e bebida à fartasana animada com musica dos Rolling Stones e Quim Barreiros, convidou toda a nobreza universal, reis, rainhas, pincesos, princesas e todos compareceram à excepção do Gaspar o que muito aborreceu o rei que chamou à sua presença o Belchior e o Baltazar para saber o porquê da ausência “saiba vossa majestade que ele ficou na Tugolândia a fazer modelos para saber como é que há-de sacar mais algum aos tugas”, o rei aceitou a explicação como boa e deu continuidade à festa, o reino estava todo iluminado como a feira popular antes de ser “comprada” pela bragaparques, eram vacas porcos e cabritos em gigantescos espetos, malta deitada debaixo dos tonéis a emborcar como se não houvesse amanhã, era a folia e a loucura total, a camponesa foi nomeada marquesa das barrigas de freira e o pajem promovido a administrador de uma PPP, o Spilberg condecorado com a ordem dos faz de conta. Depois de passados estes três dias o povo recolheu a suas casas para curar a ressaca, o rei começou a planear o baptizado, comprou um cinto de castidade para a filha que só seria tirado quando ela atingisse a maioridade e o tempo passou com toda a gente feliz menos a pobre da princesa que sempre que necessitava de uma mijinha tinha que pedir ao “Constatino Guardador de Vacas e de Sonhos” que lhe emprestasse a chave e assim tudo foi correndo até que um dia, pelos anos ofereceram uma pastilha elástica Gorila à princesa, esta que era apaixonada por filmes de espionagem aproveitou a pastilha para com ela fazer um molde da chave, com o molde na mão dirigiu-se ao ferreiro onde lhe pediu para este fazer uma cópia das chaves da casa das bonecas, disse ela, o ferreiro disse que sim mas custava que lhe custava três maravedis, ora todos sabemos que a malta da nobreza não anda com dinheiro na carteira a princesa ficou aflita e perguntou se não podia pagar de outra forma, “a menina gosta de gelados?” “gosto gosto” “pois olhe eu aqui no meio das pernas tenho uma coisa que se chupa comó os gelados se a menina quiser chupa-mo e eu faço-lhe a chave de borla”, a princesa como era louca por gelados nem exitou disse logo que sim mas o serralheiro que era homem de muitas vidas disse-lhe logo “olhe menina quando sair o creme não deixe que escorra nada para o vestido, engula que foi assim que o Clinton se lixou” “tá bem tá bem” a princesa lá chupou o gelado do serralheiro, este fez-lhe a chave e a menina estava tão contente que quando saiu da loja do ferreiro só cantava a canção dos 1111 “andam falos pelos bosques”, entretanto o tempo foi passando e um dia apareceu no palácio uma bruxa má que iludindo a vigilancia da cia mossad e mi6 conseguiu chegar à fala com a princesa “ai que menina tão bonita e saiba que vim de longe mesmo ali de pé de buarcos para lhe dar esta linda maçã e se a menina gostar podemos fazer um franchising”, a princesa como era boa pessoa deu logo uma trinca na maçã e então oh deuses de todos os céus caíu redonda no chão como se ativesse sido atingida por um raio do capitão marvel, “ah ah ah agora só acordas se fores beijada por um principe” e a cantar e a bailar a bruxa montou na sua vassoura ultimo modelo com jantes de alumínio e partiu em direcção ao Sol poente.
O rei quando teve conhecimento do nefasto acontecimento rodeou-se de todos os magos e alquimistas da corte na busca de uma solução, todos se debruçaram sobre a princesa adormecida, experimentaram mezinhas e feitiços, nada resultava a princesa estava mesmo em estado de letargia total, o veneno era muito poderoso e só a bruxa má ou um principe que a beijasse  a poderiam fazer voltar à vida.
O rei desolado mandou construir uma cabana na floresta onde seria guardada por guardas do vaticano com ordens solenes para só deixarem entrar algum principe que se tivesse perdido ou a bruxa rigorosamente vigiada, e assim foi, construíram-lhe uma cabana e no meio da cabana uma cama atapetada de flores vindas directamente da Madeira e da Holanda, o jardim ainda se mascarou de principe para dar ar às peles mas os guardas toparam-lhe logo o esquema e o pobre lá teve que apanhar um voo da Ryanair para a Madeira. O tempo foi passando até que um belo dia montando um lindo cavalo branco apareceu um formoso principe ricamente vestido com as mais belas sedas e veludos, o cabelo refulgindo por baixo da toca, a espada suavemente embainhada e cravejada de diamantes, uma capa de brocado vermelho enfim um principe mesmo à maneira, o principe aproximou-se da cabana e com a sua melíflua voz de principe perguntou “o que se passa aqui” “quem és tu?” perguntaram os guardas “sou o principe do reino da pinocada mas podem tratar-me por principe pinocante” “saiba vossa alteza principe pinocante que lá dentro está uma bela princesa que foi enfeitiçada e só acorda com o beijo de um principe” “ora bem eu sou principe posso tentar mas que ganho eu com isso?” “saiba vossa alteza principe pinocante que o rei concede a mão da princesa a quem a fizer despertar” “só a mão? Farto de pivias estou eu” “a mão é uma forma de dizer, oferece-a em casamento e quem a desposar por morte do rei torna-se rei” “ah assim já vale a pena deixo de ser o principe pinocante errante e passo a ser o rei pinocante com cama mesa e roupa lavada, vamos lá então tratar do assunto mas exijo privacidade” “esteja sua senhoria à vontade”, o principe desmontou, abanou os cabelos como no anuncio da Sunsilk e entrou “porra que a gaja é linda e boa”, aproximou-se da cama de flores, afastou-lhe os cabelos de oiro, debruçou-se para a beijar e “ai caraças que tenho herpes labial, como é que vou resolver isto?”, deu umas voltas à cama e uma brilhante ideia ribombou-lhe na cabeça “a cenoura, a cenoura”, colocou a mão no bolso dos calções de cetim e sacou do bolso uma bela cenoura das hortas de Loures, aproximou-a dos lábios da princesa, deslizou-a suavemente e nada até que de repente a princesa abre os olhos sente o fálico material na boca, agarra-o com as duas mãos e toca de chupar, lamber, esfregá-lo na cara e “porra então este sorvete não tem creme?” “oh minha bela não te preocupes que pedi privacidade aos guardas e eu dou-te o que tenho aqui entre as pernas” “prometes?” “prometo e meto” e assim foi o principe baixou os calções a princesa lambuzou-se no malho e depois de engolido o cremezinho todo voltou-se para o principe “oh principe apetece-me algo mais” o principe que como já sabemos era pinocante não foi de modas, deitou-a de bruços na cama levantou-lhe as saias e “ oh foda-se tens cuecas de lata” “não te rales que tenho aqui a chave” o principe abriu a fechadura o cinto de castidade caiu com estrondo no chão “brum” e aqui me sirvo, foi canzana, missionário, posições que não sei o nome até que exaustos se deitaram na cama, os guardas estranhando a demora bateram na cortina de pano “então ela acordou?” “acordou mas agora deixem-nos descançar”, os guardas baixaram as armas, sentaram-se cá fora, partilharam um charro “foda-se inda bem ca gaja acordou já estava farto de estar aqui” “também eu e tenho saudades daqueles cuzinhos do Vaticano” “nem me fales nisso que ainda esgalho uma”, passados um bom bocado a princesa e o principe pinocante saíram de mãos dadas e deram ordens aos guardas para irem para o palácio, o principe e a princesa montaram nos cavalos os guardas nos burros e lá foram. Quando chegaram ao palácio o rei esperava-os com a banda da Carris em grande fanfarra, o povo em alarido e logo ali se celebrou o enlace presidido pelo cardeal patriarca D. Fuas da Pouca Roupa, o povo estava em festa, o rei estava em festa, a princesa deflorada estava em festa, o principe emborcava e tentava comer as aias que aiavam à frente dele e o tempo foi decorrendo devagar até aos dias de hoje e hoje quem passar por Fantasilândia só ouve na voz do vento que sopra do castelo o murmurio lamentoso do principe “cabrão do velho que nunca mai

Estou Farto

Estou farto deste país e das suas gentes que tudo come e tudo cala, estou farto deste país de compadres e amigalhaços em negócios que pudor é palavra de dicionário, estou farto das PPPs e das fundações que nos levam o dinheiro todo mas já não são gorduras do estado, estou farto destes desgovernantes que nos apertam o cinto até não ter mais buracos porque é “inevitável”, estou farto deste país que deixa as suas crianças irem para a escola de estomago vazio, estou farto dos relvas que se doutoram num ano e teem equivalências a disciplinas que nem sequer existiam, estou farto dos economistas que diariamente aparecem na televisão a dizer que vivemos acima das nossas possibilidades, estou farto das jonets que me dizem que não podemos comer bifes todos dias e que trocamos uma radiografia por um concerto de rock, estou farto de passar os meses a contar os dias que faltam para que o novo vencimento caia na minha conta bancária, estou farto destes banqueiros que quando falam de mais austeridade dizem “ai aguenta aguenta”, estou farto deste país que que foi pago para acabar com a agricultura pescas e industria, estou farto que venham cá uns tipos quaisqueres estrangeiros dizer como devemos governar a nossa casa, estou farto dos coelhos que se desfazem em vénias e mesuras às merkells deste mundo, estou farto que digam que somos bons alunos quando copiamos receitas que nos encaminham para o colapso total, estou farto de gaspares com os seus modelos que só são infalíveis no falhanço, estou farto de ter como representante máximo deste país um individuo que tudo indica ser um ex pide, estou farto de viver na expectativa não ter amanhã, estou farto deste país em que as pessoas entregam as casas aos bancos e mesmo assim ainda lhes ficam a dever dinheiro, estou farto dos indivíduos de fatos azuis ou cinzentos que dizem aos nossos filhos para procurarem trabalho no estrangeiro porque por cá não há, estou farto de ver pessoas que dormem em vãos de escada porque por todos foram abandonados, estou farto deste país em que aqueles que juraram defender a Constituição fazem dela um mero objecto de violação, estou farto de ter como primeiro ministro um ex toxidopendente que batia na mulher, estou farto de ver os jovens abandonarem as universidades porque os pais caíram no desemprego, estou farto de ir à farmácia e ver pessoas deixarem lá metade dos medicamentos porque teem que optar entre a saúde e a comida, estou farto de ficar sem subsídios porque o BPN levou o dinheiro que dava para os pagar durante cinco anos, estou farto dos dias loureiro que entraram para o governo com quarenta contos e agora teem fortunas de milhões em off shores, estou farto de ver pessoas à porta dos supermercados depois deles fecharem para irem catar no lixo os alimentos já fora do prazo de validade, estou farto de ver policias bater a torto e a direito em qualquer pessoa porque meia dúzia de putos lhes atiraram pedras, estou farto dos varas e dos godinhos que trocam sucata por “caixas de robalos”, estou farto farto das esteves que se reformam aos 42 anos e se tornam presidentes da Assembleia da República, estou farto que me digam que devemos poupar enquanto eles com o nosso dinheiro se deslocam em bombas de milhares de euros, estou farto dos álvaros que querem fazer franchisings dos pastéis de Belém para tirar o país da  penúria, estou farto de ler nos jornais que mais um velho foi encontrado morto passados não sei quantos anos e ninguém sentiu a sua falta, estou farto dos cratos que colocam milhares de professores no desemprego e querem ressuscitar o tipo de ensino fascista, estou farto das pessoas que na rua de mão estendida imploram por uma moeda para poderem comer uma sopa, estou farto de ver pessoas apanhadas nos transportes públicos porque não tinham dinheiro para comprar o bilhete, estou farto dos macedos que transformam a saúde num bem só para ricos, estou farto que as finanças me digam que devo pedir factura até por uma bica, estou farto do portas e das submarinicas negociatas mas não é nada com ele, estou farto duma justiça que condena a cinco anos de prisão efectiva alguém que roubou um shampoo e um polvo congelado e coloca em prisão domiciliária o duarte lima que burlou este país em milhões de euros, estou farto farto farto farto desta treta deste país de figurinhas, figurões e figurantes.



O Bexigas e a Mimi

O Zé Bexigas, chamavam-lhe assim porque quando era miúdo tinha apanhado bexigas doidas que o deixaram marcado para o resto da vida, tava mesmo todo lixado, encostado ao balcão da tasca do Quim Bóinas enquanto emborcava uns valentes copos de três e cuspia as cascas de pevides murmurava “puta de vida só a mim” “puta de vida só a mim” e quem tentava entabular conversa era prontamente afastado pelo Bexigas como quem enxota um cão sarnoso.
“Puta de vida só a mim mas mesmo só a mim” e lá cuspia mais umas cascas de pevides enquanto batia violentamente com os punhos cerrados no balcão encardido de anos de copos de vinho e bagaço, mas que tinha acontecido afinal ao Zé Bexigas para estar assim tão ensimesmado e acabrunhado? bem não sei se vos conte ou se dê vós ao Zé e seja ele a contar-lhes, esperem aí só um nadinha que vou perguntar-lhe, “Zé és capaz de dizer a estes senhores porque é que estás assim?” “pá já não disse pra não me chatearem?” “já, já disseste Zé mas estes senhores estão preocupados de te ver assim” “mas preocupados porquê? Conhecem-me dalgum lado?” “não, Zé não te conhecem mas há pessoas que se preocupam com os outros ou são simplesmente coscuvilheiros custa-te assim tanto contar?” “são coisas cá da minha vida” “vá lá Zé desabafa ca gente que ficas melhor”, o Zé limpou as beiças ao casaco roçado virou-se pra nós tirou um cigarro do bolso do colete, acendeu-o, deu duas baforadas, encostou os cotovelos no balcão e “mas então qé que vocemesseses querem saber? Ãh?” “Não te zangues conta-nos lá porque estás assim” “tá bem eu conto, foi outra vez a Mimi que me pôs os cornos” “pá mas tu também já estás habituado sabes bem que volta não volta lhe dá uma venheta e dá corda aos sapatos” “tá bem mas desta vez é diferente, óviste?, pôs-me os cornos, não fugiu para casa da mãe, pôs-me os cornos” “com quem?” “com o Tó Lambretas da oficina” “então mas isso foi assim sem mais nem menos?” “não sei meu, a gaja já andava estranha há uns dias, nem com porrada eu conseguia quela me fizesse alguma coisa e havia dias que chegava a casa e a gaja ainda não tava e bem sabes que ela sai primeiro do cabeleiro que eu das obras” “o que acho estranho é não desconfiares de nada” “eu desconfiar desconfiava mas nunca me passou pela cabeça, como ela anda maluca com a “casa dos segredos” julguei que ficasse no parlapié com as outras cabeleireiras a falar daqueles cromos” “tá bem Zé mas um gajo pressente essas coisas” “pressente? Pressente como? Começam a nascer-lhe cornos é?” “deixa-te de merdas se não andasses sempre bêbado e não passasses a vida a chegar-lhe a roupa ao pelo se calhar nada disso acontecia” “quê mas se calhar agora um gajo não pode dár nos cornos da mulher? Se é MINHA mulher faço com ela o que bem quero queu cá não sou desses paneleiros todos modernos caté limpam a casa e tudo” “vá lá não te armes em machão que eu sei bem o teu passado” “mas praqué co meu passado é práqui chamado ãh ãh?” vendo que o Bexigas começava a levantar o pelo decidi acalmá-lo não fosse ele dar-me alguma bolachada que virava logo o boneco “acalma-te Bexiga sabes que sou teu amigo qué que bebes?” “pode ser um penalty tinto” “oh Bóinas trás aí um penalty pró Bexigas e uma Sagres pra mim” o Bóinas solicito aviou logo o pedido, o Bexigas pôs o copo na boca e bebeu-o quase todo de só uma vez “mas olha lá ó Bexigas já tentaste falar com ela?” “eu? Eu? O Bexigas rebaixar-se ao pé daquela puta, nem penses nisso” “pá eu sempre ouvi dizer “que a falar é que as pessoas se entendem”” “tás mas é maluco dos cornos, seu visse a gaja partia-lhe a fronha toda e depois dava-lhe cabo do corta feno e depois ia de rastos pra casa lavar a loiça limpar a casa e levava mas era outro enxerto” “não sejas assim, é por essas e por outras que a gaja está sempre a deixar-te com as calças na mão” “tu vais ver é ela e o Lambretas se os apanho………”, o cigarro já se lhe tinha apagado entre os dedos, não era o “pensativo cigarro” do Eça era o cigarro apagado do entorpecido Bexigas que se voltou de costas pra mim , arrotou e “quero é quela se foda”. Não lhe disse nem perguntei mais nada, sou daquele tipo de tipos que respeita o sofrimento alheio, dei-lhe uma palmada nos ombros e “até amanhã Bexigas vê se comes” “tá bem tá bem”, virei-me disse boa noite aos presentes e quando me preparava para sair quem é que vejo na porta da taberna? A Mimi, a Mimi vinha a entrar na tasca, cabelo arranjado, lábios pintados, rimel nos olhos enfim uma autentica Barbie, primeiro baixinho “zé” e o Zé nada, “Zé” o Zé voltou-se deparou-se com a Mimi recortada na ombreira da porta e toda a sua cara se abriu num tremendo sorriso “perdoas-me Zé?” o Zé não disse nada só sorria “perdoas-me Zé?” “oh minha querida Mimi por onde é candaste pra me deixares assim a sofrer” o Zé nem acabou o copo correu para a Mimi pegou nela como se não tivesse peso e beijou-a sofregamente na boca “sabes a vinho” “quéquequeres que faça, sabes que sem ti sou um homem desgraçado” “Bóinas Bóinas dá aqui já um licor à Mimi”, o Bóinas lá foi buscar a garrafa de Marie Brizard, encheu um cálice das visitas e  a Mimi toda dengosa deitou a língua de fora ao Bexigas,  emborcou-o todo de uma só vez, o Bexigas agarrou-a pela cintura, trouxe-a até à porta decerto já a pensar na noite da reconciliação e chegado à porta solta a cintura da Mimi, volta-se para nós, enche o peito de ar e “então quem é que é o macho? Quem é que manda? Ãh, ãh”.
Ah ganda Bexigas que és o meu herói.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Mail por mim enviado ao primeiro ministro

Ex. Sr. Primeiro
Venho desta forma expressar-lhe a minha mais profunda gratidão pelos 16.01€ que amanhã vou receber como subsidio de Natal, quero também informar vª Exª que amanhã dia 9 de Novembro de 2012 me dirigirei a uma qualquer superficie comercial, excepção feita ao Pingo Doce onde apenas se pode pagar com cartão multibanco a partir de 20€, e gastarei toda esta incomensurável fortuna em tudo o que seja necessário e mesmo desnecessário para uma ótima ceia de Natal.
Deduzo que Vª Exª seja contra este vicio consumista que me assola mas que quer tenho o vicio da comida, pior do que o do tabaco, e apesar de já ter reduzido o nº de refeições diárias para duas mal medidas ainda não consegui atingir a perfeição de deixar de comer mas decerto que com a sua ajuda num futuro relativamente próximo lá chegarei.
Veio-me agora à memória Vª Exª durante a campanha eleitoral quando questionado por uma aluna de um estabelecimento de ensino deste definhante país sobre os cortes dos subsidios lhe ter respondido "disparate", claro que muitos portugueses não acreditaram e lhe começaram logo a chamar aldrabão, eu não faço parte desse lote porque sabia que era 1 de Abril e o sr. mais não fazia do que pregar uma mentirinha em alusão à data, pois bem sr 1º Ministro o sr que estava tão bem preparado e sabia tudo, mas mesmo tudo, sobre a situação económica do país vai agora impedir-me de comer lagosta, caviar Beluga e beber Moet et Chandom nas festividades que se aproximam? Claro que vai mas não é inocentemente que o faz, fá-lo no interesse nacional e de forma a cortar nas importações virando-nos assim para os bons e saudáveis produtos nacionais como os coiratos e torresmos que ataviarão a minha lauta ceia de Natal, por isto e tudo o resto eu e mais 10 milhões de portugueses, grosso modo, só lhe podemos estar gratos e já agora como sei que dia 12 vai estar com a srª Merkell se for possivel dê-lhe um xicoração bem apertado da minha parte.
Com os meus cumprimentos e que seja tudo "a bem da Nação" não sem antes lhe desejar as boas festas.
Sou
Fernando Monteiro